quarta-feira, 27 de abril de 2011

Michael and Me



Só agora me dei conta de que Michael Jackson fez parte da minha vida inteira. Crescemos juntos. Tínhamos, praticamente, a mesma idade. E sua voz esteve tão presente em minha vida, por mais de três décadas, que olho pra trás e não vejo um segmento da minha trajetória sem ele.
Michael era dotado de um talento nato, hipnotizante e raro. Tinha a “tecnologia” de um cometa. Parecia um ser de algum recôndito encantado, tal o poder enfeitiçador que possuía. Por isso sempre demonstrei pelas suas aparições o mesmo interesse que tenho por um eclipse. Corria pra ver. Confiava nele. Sabia que ele era uma fonte segura de prazer e beleza, onde eu poderia me banhar quando tivesse que fugir do corriqueiro. Mas, curiosamente, depois de tomar conhecimento do trabalho mais novo, conduzia naturalmente a minha dedicação, como se ele fosse um pássaro ou um desses elementos da paisagem. Elementos que se manifestam divinamente na natureza, mas nem sempre dirigimos a eles um olhar contemplativo. Nos acostumamos com eles. Passamos a vê-los e ouvi-los sem maiores reverências. É assim que eu convivia com Michael, após o impacto do mais novo lançamento: como convivo com as flores, com o pôr-do-sol, com o canto das aves... Como os suecos devem conviver com seus Alpes, e o carioca, com o Cristo Redentor.
É curiosa também a constatação agora de que, no decorrer dos anos, não me dei conta de suas metamorfoses. Não percebi, de imediato, as mudanças de aparência, o aumento da estatura. O artista era tão superior ao indivíduo que nem me preocupei com a mudança do timbre vocal. Assim como me surpreendi com os meus seios crescidos, quando um dia me olhei no espelho, me espantei com Michael cantando Rock With You na Tv. Estava enorme o menino - lindo, irresistível e atraente. Notei que um segmento novo da sua carreira surgia e que o seu talento era mesmo inesgotável. Um dia me apareceu com Thriller. E nem respirei, de tão estática, diante do impacto de um clipe absolutamente original e inovador. A coreografia era pra mim impossível, mas, passado o susto, entrei no clima e dancei, hilária, como veio todo o planeta a fazer.
Michael Jackson deixa uma escola de arte, um acervo cultural de valor inestimável. O que ele fez ainda é uma grande novidade. E aquele que puder mergulhar nessas décadas de maicomania vai poder extrair grandes tesouros dessa mina de ouro que foi a carreira do artista mais completo de todos os tempos.
A morte do Rei do Pop me leva agora a um dúbio balanço; me traz uma série de imagens de um dançarino fantástico que, por décadas, encheu minha cabeça de estrelas; e me permite, portanto, uma reconciliação com esses tempos de ferro que, graças a Michael Jackson, não foram tão ruins.
This Is It.

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